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AUTOESTIMA | Constituição e Importância

Sigmund Freud (1914-1916 p. 16), antes de chegar à conceituação de autoestima, o qual ele chama de amor-próprio em sua obra, suscita o narcisismo, onde segundo ele, é o direcionamento de toda sua libido para o Eu, sendo que libido é designada como a força dos instintos sexuais dirigidos para o objeto; neste caso, esta força é dirigida para o próprio Eu (FREUD, 1923-1925, p. 151).


O narcisismo infantil, experimentado na infância, tem relação com as funções vitais de autoconservação, neste momento, a libido está voltada para si e posteriormente é direcionada a outro objeto e para não perder a perfeição narcísica de sua infância, busca readquirir isso a partir da formação do ideal do Eu, cuja formação desta instância parte da influência crítica dos pais e intermediadores de vozes que perpassam seu caminho, como,  por exemplo, educadores, instrutores e todas as demais pessoas do meio em que vive (FREUD, 1914-1916 p. 32-42).


Ao surgimento do ideal do Eu, ocorre o deslocamento de sua libido para este ideal, o qual a satisfação se dá através do cumprimento do ideal do Eu criado. Assim, o autor explica que o amor-próprio é constituído por três partes, sendo que: Uma parte é primária, resto do narcisismo infantil; outra parte se origina da onipotência confirmada pela experiência (do cumprimento do ideal do Eu); uma terceira, da satisfação da libido objetal (FREUD, 1914-1916, p. 48).


Segundo Schultheisz e Aprille (2013), a forma que o indivíduo estabelece suas relações com o mundo exterior interfere na formação de sua autoestima. Quando nasce, suas necessidades são satisfeitas sem que haja por parte dele a percepção do outro. A sensação de conforto e de bem-estar parecem vir dele mesmo e conforme cresce e adquire maturação física e emocional, o mundo exterior começa se distinguir.   

      

Neste processo, ele começa a diferenciar seu “eu” do "outro". Passando a ter clareza que existe o seu “eu” e os outros "eus". Percebe que habita um corpo situado em um espaço e se relaciona com seres e objetos presentes no contexto e, ao mesmo tempo, lhe dá identificação Entender que seu "eu" é independente do que lhe rodeia, não se restringe à percepção de seu físico, mas de sua constituição identitária, que decorre da influência, em primeiro lugar, da educação informal e, posteriormente, da educação formal (SCHULTHEISZ; APRILLE, 2013).


         Para Vaz (2010), a família é núcleo básico humano e, esta, por sua vez, representa o cenário de constituição da autoestima. Ela se forma desde cedo na vida das pessoas e está ligada ao julgamento que cada um faz a respeito de si próprio. Afetando diretamente os sentimentos e a maneira como a pessoa se comporta diante das situações da vida, principalmente aquelas relacionadas a vida social e, por conseguinte, as que têm a ver com o olhar do outro. O ser humano tem a necessidade de se ver refletido no outro para, assim, se reconhecer e se sentir aceito e importante para outras pessoas e para si mesmo.

 

Os relacionamentos familiares exercem papel fundamental na visão e/ou aceitação que o indivíduo tem de si e dos sentimentos autonutridos. Uma criança cuja mãe é superprotetora, que não lhe permite sair, brincar com amigos, vivenciar costumes diferentes, adquirir outros referenciais de relacionamento e, ainda, recebe críticas por tudo que realiza, é bem provável que não acreditará em seu potencial, não se sentirá segura para executar quaisquer atividades e certamente apresentará baixa autoestima. Ao contrário, a criança, cujo comportamento é reforçado pela família, provavelmente se sentirá segura e confiante para realizar o que lhe for solicitado. Em ambos os casos, a autoestima decorre do quanto o individuo se sente em relação a si próprio: autoconfiante e competente ou fracassado e incompetente. Portanto, o conceito de autoestima traduz a maneira e o quanto o indivíduo gosta dele mesmo (SCHULTHEISZ; APRILLE, 2013, p.03).

 

Assim, conceitualmente, para Freud, o amor-próprio é a expressão de grandeza do Eu e tudo que se tem ou se alcançou, todo resíduo do sentimento de onipotência que a experiência confirmou, ajudam a aumentar o amor-próprio (FREUD, 1914-1916, p. 45).


     Sob a perspectiva de Assis e Avanci (2004), a autoestima é a avaliação que o indivíduo faz de si mesmo; se refere ainda à forma de expressar aprovação ou repulsa e a forma em que se sente capaz, significativa e valiosa, ou seja, um juízo de valor expresso nas atitudes que o indivíduo tem consigo mesmo. No entanto, o crivo do sentimento de merecimento, passar pelo olhar do outro, como se apresenta a seguir:

 

A autoestima possui uma abordagem simplificada, onde mostra o que a pessoa sente em relação a si mesma. Quando esta é positiva, significa que a pessoa tem uma boa imagem de si mesma, acredita que os outros gostam dela e confiam na sua habilidade de lidar com desafios. Quando esta é negativa, acha que não merece o amor de ninguém, não acredita no seu potencial, não se acha capaz, e considera que não sabe fazer nada direito. (GUILHERME, 2016 p. 02)

 

   A referência acima se sustenta no que diz Vaz (2010), a confiança básica que sustenta os seres humanos em seu desenvolvimento parte do olhar acolhedor de quem os cuida na primeira infância, em especial a mãe e com o qual se identifica e percebe como parte de si mesma num primeiro momento. Ele diz que o brilho observado no olho da mãe representa o primeiro reflexo que o bebê tem de si mesmo a partir da resposta da mãe à sua existência. Ou seja, o sentimento de merecimento e valoração pessoal vai depender a da percepção que este indivíduo teve em suas relações, principalmente, na primeira infância.

 

Para Santos e Campos (2020), é importante compreender que a família é um ponto fundamental para o desenvolvimento das crianças e jovens e que um ambiente familiar desestabilizado pode comprometer sua vida emocional e social, podendo acarretar disfunções da autoestima. Sendo que a baixa autoestima está relacionada, principalmente, a uma percepção equivocada de si o que leva a um sentimento de inadequação.


A autoavaliação do indivíduo ocorre conforme os sentimentos e pensamentos aprendidos durante o processo de formação de sua identidade. Essas avaliações mostram as diferenças entre os indivíduos e as rotulam de boas ou más, adequadas ou inadequadas, desenvolvendo processos de rejeição ou de aceitação. O indivíduo pode apresentar comportamentos agressivos e de defesa ou afastar-se do meio por sentir-se posto de lado na medida em que não percebe nada de bom e produtivo vindo de si mesmo. (SCHULTHEISZ; APRILLE, 2013).


Janeiro (2008) diz que a necessidade de autoestima tem sido apontada como um dos motivos mais importantes do ser humano. Pois, esta necessidade básica de valorização pessoal apresenta diversas funções, como, por exemplo, a estabilidade, o desenvolvimento da confiança para o alcance de objetivos, a monitoração do grau de aceitação pessoal e proteção da rejeição ou exclusão social ou, ainda, a proteção contra os efeitos das emoções negativas.


Coopersmith (1981) apud Janeiro (2008) salienta que a autoestima pode variar ao longo de diferentes áreas de experiência. Ele apresenta um modelo próprio em que considera quatro domínios diferentes: a autoestima escolar, a autoestima familiar, a autoestima social e as referências gerais ao self; destas subescalas são alcançados alguns resultados, cujos de pontuação elevada indicam que o indivíduo possui autoestima elevada e estimam a partir disso respostas comportamentais bastantes socializadas.


Assim, torna-se importante se atentar para os fatores que tangem a construção de uma boa autoestima, considerando a evolução dela não apenas em termos globais, mas também em domínios específicos além de, também, compreender o indivíduo depende de um olhar amoroso e de apreciação vindo de uma pessoa significativa de seus círculos sociais, tendo destaque neste processo, o papel da família, independentemente de sua composição, ela é a principal fonte de apoio estável (JANEIRO, 2008).


Uma boa autoestima associa-se, ainda, à resiliência, à combinação entre flexibilidade e força para enfrentar os obstáculos, à capacidade de encontrar saídas, à visão otimista, à fé e ao cultivo da alegria pelas coisas simples; surge como um alicerce da vida (ASSIS; AVANCI, 2004 p.10 e 11).


A autoestima está presente na vida de todos os seres, e em cada indivíduo pode apresentar-se, ora baixa, ora elevada. E isto pode vir a justificar determinadas ações humanas, sejam em círculos sociais mais próximos ou em locais mais abrangentes.


Corresponde a avaliação que o indivíduo faz de si mesmo; se refere ainda à forma de expressar aprovação ou repulsa e a forma em que se sente capaz, significativa e valiosa, ou seja, um juízo de valor expresso nas atitudes que o indivíduo tem consigo mesmo, afeta o modo como o indivíduo se porta no mundo, interferindo em suas relações pessoais e cognitivas.


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Referências Bibliográficas


ASSIS, Simone Gonçalves and AVANCI, Joviana Quintes. Labirinto de espelhos: formação da auto-estima e adolescência [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ,. Criança, mulher e saúde collection. ISBN 978-85-7541-333-3. Available from SciELO Books. 2004. Disponível em http://books.scielo.org Acesso em 21 março 2022.


FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos (1914-1916) Vol. 12. / Sigmund Freud; tradução e notas Paulo César de Souza – São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 16-48.


FREUD, Sigmund. O Eu e o ID: autobiografia e outros textos (1923-1925) Vol. 16. / Sigmund Freud; tradução e notas Paulo César de Souza – São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 151.

 

GUILHERME, Keite. O estudo da afetividade na formação da autoestima da criança na educação infantil. 2016. Disponível em https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/o-estudo-afetividade-na-formacao-autoestima-crianca-na-educacao-infantil.htm Acesso em 09 outubro 2022

 

JANEIRO, Isabel Nunes. Inventário de Auto-Estima de Coopersmith: Características psicométricas da versão portuguesa, 2008. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/235343366_Inventario_de_Auto-Estima_de_Coopersmith_Caracteristicas_psicometricas_da_versao_portuguesa Acesso em 19 outubro 16h52

 

NEVES, Eloísa Dias. Quando a escola é a "casa", a "rua" e o "quintal". 2011. Disponível em:  https://www.scielo.br/j/cp/a/fyLQQwXXvJWFtr5JxjdDQcD/?lang=pt Acesso em 21 abril 2022.


SANTOS, Jessica Barbosa dos; CAMPOS, Lorena Loiola.  A Afetividade no Contexto dos Processos de Ensino Aprendizagem. 2020. Disponível em: https://repositorio.alfaunipac.com.br/publicacoes/2020/542_a_afetividade_no_contexto_dos_processos_de_ensino_aprendizagem.pdf acesso em 29 setembro 2022

 

Schultheisz, Thais Sisti De Vincenzo; APRILE, Maria Rita. Autoestima, conceitos correlatos e avaliação, 2013. Disponível em https://revista.pgsskroton.com/index.php/reces/article/view/22 Acesso em 19 outubro 17h10

 

TAILLE, Yves de la; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS Helloisa. PIAGET, VYGOTSKY, WALLON: Teorias Psicogenéticas em Discussão. 25° Edição, Summus Editorial. 1992.

 

VAZ, Wagner de Menezes. Empoderamento: Transferência e o Resgate da Autoestima. 2010. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=p&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=VAZ,+WAGNER+DE+MENEZES Acesso em 07 outubro 2022



São Paulo, 22 dezembro de 2022.

Thalina Lima


992501061(11)



 
 
 

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