A PSICOPATOLOGIA NA CLÍNICA DA PSICANÁLISE FREUDIANA
- Thalina Lima
- 5 de jan. de 2024
- 4 min de leitura
A psicopatologia e a psicanálise freudiana são áreas intimamente relacionadas no campo da psicologia e da psiquiatria. Compreender como estas teorias se articulam torna-se significativamente necessário para a construção de um plano terapêutico adequado, visto que o sujeito é dotado de história individual e coletiva, este olhar para a história contribui para a construção do novo, para a construção de um olhar contemporâneo da saúde mental.
Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, desenvolveu suas teorias ao longo de várias décadas, forneceu uma estrutura fundamental para a compreensão das doenças mentais e dos transtornos psicológicos. Seu trabalho seminal "Recordar, Repetir e Elaborar" (1914) é uma referência crucial na psicanálise e enfoca a importância do processo terapêutico nas experiências do paciente.
Em "Os Instintos E Seus Destinos” (1915), Freud explorou a natureza das pulsões e como elas influenciam o comportamento humano. Essas reflexões também são relevantes para a compreensão da psicopatologia, uma vez que muitos transtornos têm raízes em pulsões e conflitos internos. Enquanto o aparelho psíquico não encontra um objeto para dar vazão à pulsão, o sintoma se mantém, e, enquanto não elabora, se repete. Este repetir é um ignorar da causa, a elaboração ocorre no processo analítico, onde pela via da transferência reviver-se-à a experiência e, nesta oportunidade, reconecta-se o afeto à representação.
Outro trabalho significativo de Freud, "Além do Princípio de Prazer" (1920), explorou as tendências autodestrutivas do ser humano. Esta obra aborda a necessidade de entender não apenas os desejos conscientes, mas também os impulsos inconscientes que moldam nosso comportamento. Por vezes, ao perder o sintoma, sente-se a ideia de não reconhecer-se, não saber mais quem sem é, pois, o sintoma sustenta o Eu, sustenta aquilo que o sujeito não está disposto a deixar ir, visto que pode haver ganhos secundários com a doença.
Para compreender a ligação entre a psicopatologia e a psicanálise freudiana, é fundamental considerar o conceito de "Inconsciente". Freud argumentou que muitos dos conflitos psicológicos que levam à psicopatologia são enraizados no inconsciente do indivíduo, e a terapia psicanalítica visa trazer à tona esses elementos ocultos, permitindo uma compreensão e resolução específicas. A psicanálise não visa tratar os sintomas, mas, sim, a partir da organização do aparelho psíquico, estes, por sua vez, desfarzer-se-ão. Neste sentido, o diagnóstico na psicanálise torna-se importante para a definição do manejo clínico com cada paciente.
Além disso, a obra "Projeto para uma Psicologia Científica" (1895) de Freud lançou bases para a abordagem científica da psicologia, influenciando o desenvolvimento da psicopatologia como uma disciplina empírica que busca compreender e classificar os transtornos mentais. Atualmente, além do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), O R-DOC (Research Domain Criteria) apresenta uma proposta de classificação voltada à pesquisa em psiquiatria, está sendo construído no intuito de encontrar marcadores biológicos para o diagnóstico de transtornos, não baseando-se apenas em sintomas apresentados, assim como sugere o DSM, mostrando um olhar para além do sintoma apresentado; como supracitado, a psicanálise olha para o sujeito e não apenas para o seu sintoma, a eliminação ou redução deste sintoma ocorrerá como resultado do processo analítico e, a depender do quadro clínico, este trabalho será em conjunto com a psiquiatria, onde, esta por sua vez, oferece subsídio medicamentoso para que consigamos trabalhar com o paciente na análise.
Outro marco na obra de Freud é "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" (1905), onde ele traz conceitos dinâmicos como a fase oral, anal e fálica do desenvolvimento humano. Essas ideias também se conectam à psicopatologia, pois muitos transtornos têm raízes em experiências de desenvolvimento sexual. O trabalho analítico trabalhará estas questões de modo a organizar o aparelho psíquico, visando a transformação das relações objetais com suas respectivas identificações, obtendo, assim, maiores possibilidades de que as mudanças adquiridas sejam estáveis.
É evidente que a psicanálise freudiana revelou uma base sólida para a compreensão da psicopatologia. No entanto, também é importante considerar que as teorias de Freud foram objeto de críticas e revisões ao longo dos anos. Novas abordagens e terapias surgiram para complementar e, às vezes, contestar a visão de Freud sobre a mente humana.
Em resumo, a psicopatologia e a psicanálise freudiana estão intrinsecamente relacionadas, desempenhando um papel fundamental na compreensão dos transtornos mentais e no desenvolvimento da psicologia clínica. No entanto, é essencial considerar essas teorias em conjunto com abordagens contemporâneas e, também, a evolução do contexto histórico da sociedade para uma compreensão abrangente da saúde mental e da psicopatologia.
Referências Bibliográficas
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FREUD, Sigmund (1895) Projeto para uma psicologia científica. Volume I - Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
ZORZANELLI, Rafaela; DALGALARRONDO, Paulo; BANZATO, Cláudio E. M., O projeto Research Domain Criteria e o abandono da tradição psicopatológica - Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, 17(2), 328-341, jun. 2014.
São Paulo, 16 de outubro de 2023.
Thalina Lima
992501061(11)
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